Quase trinta, quase livre da Cinderela, da Branca de Neve e da Bela Adormecida!
Mesmo passando por toda uma conturbação de campanha, direto nas ruas, dormindo pouco e me alimentando mal, parece que algumas coisas acontecem num tempo necessariamente bom. Faltam mais ou menos um mês e meio para eu chegar nos trinta. Tive uma crise lá pelos 27 de que estava chegando na metade da vida. Mas foi só um princípio de angústia. Agora, realmente perto dos 30 nunca me senti tão bem em toda a existência. E não é hipocrisia, é muito sério. Nem quando tinha 18 anos e o mundo poderia ser encantado, os pássaros eram lindos, o céu era azul e o corpo era todo para cima, nem assim me senti tão bem quanto agora. Acho que esse sentir-se bem deve-se ao fato de estar atingindo os tais 30 anos com uma bagagem que meus 18 não permitia. Não sei se sentirei isso com 40, mas os 30 estão realmente especiais. E quem me trouxe luz à vida, aos sentimentos, ao corpo, aos relacionamentos pessoais, ao sentir-se bem consigo e ao mesmo tempo com os outros, foi a escola feminista que tive a honra de acompanhar há um bom tempinho nesta última década. Sem conhecer essa realidade que abarca a sexualidade da mulher perante a vida concreta, talvez até hoje me escondesse atrás de dogmas, contos, condutas, pressões e opressões diversas que fazem com que a Cinderela de cada menina nunca a deixe. Meus trinta anos estão chegando e em grande estilo: me livrei dos sapos, dos príncipes, das madrastas e de todos os passarinhos que costuram o vestido da coitadinha da moça injustiçada que fica presa com sua felicidade cerceada no alto do castelinho! Que coisa bem boa poder dizer à Branca de Neve que se ela quiser ficar com todos os anões ao invés daquele príncipe chato e sem graça, ela pode! Que coisa bem boa dar um beijo num sapo e ele continuar feio! E se quiser, aproveita e dá um beijo na sapa também! Onde está escrito que a moça deve ser a conquistada, a desejada, a almejada, e que o custo disso pode ser ela ficar a ver navios esperando que o príncipe a perceba? E que tal se ela for lá e fizer o que quiser, sem precisar se fazer de objeto de conquista? E se a Aurora descer do salto e disser na cara do príncipe: vem, eu é que não vou ficar aqui esperando alguém me acordar! Os trinta também estão rompendo com a vida em fluxograma. Essa eu vi esses dias na internet. A menina entra na adolescência. Se apaixona perdidamente por qualquer menino. Dá uma sacudida nas tranças até finalmente encontrar um namoradinho. A família inteira da menina projeta que aquele menino seja o pai dos seus filhos. Se os dois se aturarem, casam e tem filhinhos. Senão, a menina arruma outro namorado até que encontre um que ela pense: esse é para casar e ter filhinhos. Aí a menina tem filhinhos e depois passa um tempão da vida dela cuidando desses filhinhos. Se sobrar um tempinho estuda e trabalha. Depois tem netinhos, depois morre. E se a vida em fluxograma for invertida? E se a vida em fluxograma for exatamente ao contrário? E se a vida em fluxograma não for exatamente essa? E se a mulher for uma pessoa com iniciativa que não goste de ser a frágil intocável? E se? Onde está escrito que quando uma mulher dá bola para um homem, ela necessariamente quer casar, ter filhinhos, e blá blá blá? Chegar nos 30 está me fazendo perceber que a vida em fluxograma pode até ser boa. Para uns, não para todos. Não para todas. Definitivamente, eu calço 39, 40! Nunca haverá sapatinho de cristal com a minha numeração. Jamais pensei que um complexo de infância me faria feliz aos 30... O que está valendo é ser digna, se sentir bem, ser leal e não desrespeitar os limites humanos. O resto é conto de fadas para boi dormir. Cheguei nos meus trinta fazendo tudo invertido. E, finalmente, em grande estilo, estou dando ADEUS às princesas das piores histórias de terror que a idade média já inventou! Faça o que tu queres, pois é tudo da lei... da lei!
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