terça-feira, 10 de setembro de 2013

Ainda bem que não sou eu quem manda aqui

Li esta poesia, e lembrei-me de várias pessoas que ao longo de suas vidas compreenderam e reforçaram ao mundo que o ser humano não é o dono da natureza, ou que tampouco o dono de tudo que há no mundo é uma entidade "humanificada", e, pior do que isso, masculinizada. Religiosos poderiam dizer que a menção destas palavras remetem à Deus. A interpretação é livre. Eu diria que me reforça ainda mais a ideia de que somos parte, processo, transformação e não de que somos menores ou maiores que o resto do universo. Em outras palavras, somos parte da natureza, tanto quanto todo o meio ambiente que nos completa. E se nos consideramos "parte", pressupomos sintonia e sincronia com as outras partes, e não supremacia ou autoritarismo perante as outras partes. Ao ler isto sem a menor intenção, num livro de Feng Shui encontrado ao acaso na minha prateleira com "técnicas energéticas milenares", me peguei pensando: precisava dividir com mais gente. Mesmo que apenas para reflexão.



Ainda bem que não sou eu quem manda aqui

Eu jamais teria imaginado um pinhão
nem um porco-espinho, nem uma romã,
e ainda que lograsse imaginar um cometa,
como conseguiria construir um deles?
ou organizar a vida de um lago?

Onde teria eu encontrado a energia
para tornar distinto cada floco de neve?
(é mais ou meu estilo fazer um ou dois
modelos razoáveis, construir um molde
e fabricá-los em série)

E em definitivo não se parece comigo
terminar uma cordilheira toda e depois ir
cuidadosamente retocando com minúsculas
florestas de musgo a face virada para o norte
de cada pedra

Tenho excelente memória para os detalhes
mas me parece provável que fosse esquecer
as bolinhas das costas de uma joaninha

E teria esquecido de amarrar
cada uma das madeixas de seda
de cada grão de cada espiga de milho

(Ora, eu já morei numa casa por dois anos
sem pendurar cortinas no quarto de dormir
- provavelmente eu jamais conseguiria
me levar a construir uma cachoeira)

E não consigo ter em mente alguma coisa
pelo tempo que é preciso para ser um rio,
nem me concentrar pelo tempo necessário
de me tornar numa vertente fria e funda

E ainda que eu tivesse, em caixinhas,
o tipo certo de átomos e moléculas,
quanto tempo levaria em montá-los
para formar uma mera gota d´água?

E o brilho despedido por aquela gota?
Bem, acho que para todo o sempre ficarei
a procurar os começos daquela luz.

Viu só? Ainda bem que não sou eu quem manda aqui.

Evi Seidman

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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Um terço de mim


Em todos os fenômenos da natureza, tudo que pode ser materializado também passa pela matemática, depende do quanto somos capazes de abstrair.
Abstraindo minha essência no dia 09/09/2013, chego a um resultado parcial simples e direto. Um terço de minha vida compõe meu “x” na qual em palavras talvez não seja capaz de expressar no que minha alma se transforma a cada dia.
Em trinta anos de vida, vivo exatamente hoje o fechamento do ciclo da terça parte ao lado dela. Dez anos, uma estrela, um pedaço, uma soma, um perímetro de tudo que vivi fora de mim, além de mim, e ao mundo.
Se for um quociente, que seja consciente. Mas muito mais do que parte, do que fração, um produto. Uma multiplicação. Ainda que muitos tentem explicar as relações humanas na sua máxima complexidade, existe uma que muito pouco conseguimos explicar e, no entanto é a que mais nos cobramos na tentativa de fazer nosso melhor. Filhos são relações inexplicáveis, ainda que saibamos com toda a certeza de que poderíamos ter feito mais, ou ter feito diferente. E como na soma da vida, nem sempre 2 mais 2 são 4, temos plena certeza de que muitos erros cometemos e muitos ainda iremos cometer.
Um terço de mim não representa apenas um tempo ao lado dessa estrela, mas também uma história, renovações contínuas, aprendizados cotidianos, ressignificações vitais permanentes, desafios surpreendentes, e muito, mas muito exercício de paciência quando esta nos ameaça faltar... E ainda assim, teremos uma sensação mais infinita que o Pi, de que poderíamos ter feito melhor. Acredito que enquanto estivermos vivos. Até o fim. Mesmo maduros.
Um terço de mim é pura novidade. É caminhada, é construção. É inacabamento. É o que não tem governo e nem nunca terá. É surpresa. É pura vida que se complementa dentro e fora de mim mesma. É contradição, é vida que não me pertence, mas me guia.
“És parte de mim, assim como és, parte das manhãs”, como diria Vitor Ramil. E como diria Nando Reis, “não sei se o mundo é bom,
mas ele está melhor desde que você chegou e perguntou: tem lugar pra mim?”

            Feliz 10 anos de vida minha estrela, Stella! 

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terça-feira, 20 de agosto de 2013

Que fenômeno é esse?


 

Hoje na aula e depois voltando no ônibus me peguei pensando que fenômeno é esse. O que é isso que me acontece quando estou perto de pessoas que tenho sintonia sem ter conhecido uma vida inteira? Sem ter laços de sangue? Sem ter décadas de história? Sem ter dúvidas? Sem receios? Assim, simplesmente? Que fenômeno é este de sentir a presença de quem não está, apenas recebendo um bolo de cenoura? Que fenômeno é este de sair da sala para dar um abraço em quem esteve de passagem e vibrar poucos segundos uma energia de como se não fizessem dois meses que não nos víamos? Que explicação tem encontrar alguém numa fila, receber um abraço sem palavras e trocar energia sem diálogo? Que nome se dá para a "beleza de ser um eterno aprendiz"? O reconhecimento humilde do inacabamento? Como se explica voltar para uma sala de aula e se sentir em pleno estado de “ufa!”? Não sei que fenômeno é este de se sentir tão acolhida. Tão compreendida. Ao mesmo tempo, tão cheia de dúvidas, tão no direito de ser o que se pretende ser. Sem rótulo, sem título, sem vaidade. Como podemos chamar a sensação de fazer parte mais do que de uma turma de gente querendo estudar, querendo entender mais das coisas, mas acima de tudo uma turma de quem se entende só no olhar. De quem compreende nossa respiração. De respeito. De quem não separa forma de conteúdo. De quem não separa afeto de conhecimento. De quem não fragmenta a vida da teoria, muito menos a pele do pensamento. De quem não abre mão do desejo, do ser, do sentir. Não arranca da ciência o amor. Muito menos da prática o carinho. Que fenômeno é esse do tal de abraço despretensioso que nenhum de nós abre mão? Por que passamos a vida inteira separando sentimento de trabalho? Afeto de estudo? Carinho de conhecimento? Romantismo acadêmico em plena aula? Não. Vida real sendo trocada, relatada, debatida, discutida, repensada, compartilhada. Humano integral. Não deixa a alma na porta do trabalho, da escola, da universidade, e entra. Muito pelo contrário. Entra de alma e tudo. Com sentimento. Com vigor. Nos lugares mais sombrios. Mais estressantes. Mais cruéis. Mais formais. Mais duros e até mais violentos. Vida... desafiadora por essência, mas, na sua totalidade, podendo ser o que tiver que ser. Ufa! Voltei para a minha necessária terça-feira neste mundo de realidade em eterna transformação coletiva. Mais do que já diziam os filósofos existencialistas sobre a importância do "outro", mais do que já diziam os poetas de que era "impossível ser feliz sozinho", mais do que isso... é o reconhecimento contínuo disso.  

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sábado, 17 de agosto de 2013

Rap Bãrtdei, my brother!

Me disse que quando eu cheguei no mundo ele já estava. Que já pode viver uns anos sem mim, e que eu nunca na vida havia vivido sem ele (tortura bem fundamentada)! Vai ser sempre assim, o dono do pedaço, do campinho, o primeiro filho, o primeiro neto, não tem o que fazer, cheguei depois. Hoje completa 35 anos de vida e quase 31 de convivência com "aquela que veio ao mundo para dar graça" nas suas manhãs vendo Xou da Xuxa, He-man, She-ra, Porta dos Desesperados do Sérgio Malandro... Com quem ele fazia testes de lutas marciais, cabanas, corrida de tampinha, partidas de vídeo-game, ih. Depois me obrigou a gostar de Cavaleiros do Zodíaco. Eu tive que gostar daquilo, tchê, que desenho bem chato!!!!!! Era um tempo em que o poder se concentrava na mão de quem possuía o controle remoto. Não tinha essa de ter TV só para si no quarto. Aliás, não tinha controle remoto. Mas com ele eu também acordava de madrugada e dormia na sala para ver o Airton Senna domingo de manhã bem cedinho. Além disso ele me instigou o instinto de sobrevivência. Comia igual o Taz tudo que tinha de porcarias e besteiras dele e vinha comer as minhas depois. Páscoa, era fatal. Tive que aprender a esconder, guardar, poupar. Também dava briga para ler os gibis da Mônica. A briga era de quem lia primeiro. Coisas muito nobres... que atormentavam a paz do lar! ehhehehehe. Eu tenho um puta orgulho de ter passado a infância copiando tudo que ele gostava, porque do contrário estaria fadada a ser gremista como meu pai, ou quem sabe seria filiada no DEM, porque meu pai votou no Maluf... e ainda me levou para votar junto com ele (cheguei em casa e fui correndo dedar para a mãe), ou ao invés de gostar de música legal talvez escutasse umas "pereba braba". Ele ligava o som no quarto dele tão alto, tão alto, tão alto, que a vizinhança inteira aprendeu a gostar de música "alternativa". Nossas primeiras mesadas. Gastei influenciada por ele também. Com cd, logo que pudemos acessar o cd. Era um absurdo de caro. Porque a gente passou a infância inteira ouvindo fitinha kassete e vinil. Meu primeiro cd resolvi tentar ter um ataque de personalidade e escolher alguém da minha cabeça, sem a influência dele. Escolhi o cd do PATO BANTON! AHAHHAHAHAAHH Ele ri da minha cara até hoje. Mas eu tinha um motivo, é porque tocava no mingau... tá? Ainda do mundo das influências... foi ele quem me obrigou a ler um livro. Na faculdade, quando ele despertou para a política, se apaixonou de uma forma e queria que o mundo soubesse do que ele estava descobrindo. Lá fui eu. Me fez ler o Manifesto Comunista. Me fez ler também a Pedagogia da Autonomia! Olha isso, eu era quase uma adolescente, lendo Paulo Freire, jamais imaginando que uma década depois seria o foco da minha vida, seria a base do meu estudo, seria minha vida, minha prática, o doutorado, a escola, enfim. Alguém me disse esses dias que o irmão ou a irmã, são nossos primeiros amigos de verdade. Porque é com eles que a gente divide coisas que não são aproveitadas com os adultos. Passei a vida toda explicando para todo mundo que perguntava, que éramos irmãos só por parte de mãe. Olhavam para um, olhavam para outro... e as peças não se encaixavam. Eu amarela e ele pretão. E eu sempre adorei ser tão diferente, mas ao mesmo tempo tão igual. E não é que anos depois a gente fez um xerox da vida? Estão aí, nossas fotocópias! Feliz Aniversário, Amon da Costa TE AMO!!!!

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segunda-feira, 29 de julho de 2013

Contemplação

Vivendo momentos de contemplação e simplicidade.
Muito pensamento voltado na beleza da família que tenho.

Trocando o barulho pelo silêncio.
Um sol de inverno.
Uma lua de julho.
Um campo bem verdinho.
Raros sons de mar.
Uma música antiga.
O chimarrão.
Observação.
Os amigos.
Um poema.
A poesia.
O erótico.
O sorriso.
Uma paz.

__________________________

Para a minha estrela, Stella, estrela...
"Não sei se o mundo é bom
Mas ele está melhor
Desde que você chegou
E perguntou:
Tem lugar pra mim?" (Nando Reis) 

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quarta-feira, 29 de maio de 2013

Uma carta para a geração seguinte a da minha filha


Pode ser para uma(um) neta(o), caso minha filha decida ter. Pode ser para outra criança/jovem que não seja nada minha. Pode ser para quem quiser ler. Mas esta carta vem do passado. Vem de 2013. Alguém que nasceu em 1982. Viveu as lembranças dos anos 90. E dos anos 10. E foram nestes historicamente poucos 20 anos de memória, que vi muita coisa.

Neste passado que é meu presente, queria contar algumas coisas.

O intuito deste exercício é um só: pedir a vocês que não naturalizem nada.

Nem tudo é natural. Estranhem tudo. Questionem tudo. Queiram saber de onde saiu. Queiram saber por que é assim. Remontem as histórias das coisas para entender o mundo.

A própria natureza chegou um dia a ser natural. Mas em 2013 já posso afirmar que até a natureza já não é mais natural. Comemos frutos que já foram tão modificados que já não sabemos como ele seria sem químicos agregados.

A água, também chegou a ser natural. Já não é mais. Toda água potável que sai da torneira já é uma mutação de nosso próprio descarte. Seja do que vem do esgoto, seja do que vem do lixo. Se nem todo rio assim está, assim ficará.

Na natureza e na vida social. Estranhem.

Estranhem a intolerância doméstica. Estranhem que as pessoas estejam cada vez mais longe umas das outras. E, no entanto, pela internet são as pessoas que mais se amam no mundo. Estranhem a ausência do afeto. Estranhem que as pessoas pouco se tocam.

Não naturalizem que as relações mecânicas sejam comuns. Não pensem que é normal um ser humano ser substituído por uma máquina. Estranhem. Um caixa eletrônico, no meu tempo, tirou emprego de muitos seres humanos. Estranhem que no tempo de vocês uma máquina cheia de recursos substituirá a minha profissão. Estranhem que aprendam por máquinas. Entendam porque muitos discursam em favor das máquinas pois são mais potentes que um ser humano. Claro! Estranhem o fato de sermos ensinados que os seres humanos não podem errar.

As pessoas erram. Isso é natural. O natural não é a intolerância ao que erra. Estranhem o tudo que for repetição do meu tempo. Nas relações humanas, estranhem hábitos e costumes que passam de pais para filhos e no entanto desde já não andam funcionando. Não naturalizem o que é novo, e nem o que é velho.

Estranhem como funciona o sistema monetário. Descubram o que acontece quando cifras passam de uma multinacional para outra. Ou quando duas se juntam. Estranhem se até lá só existir uma única loja no mundo, que venda desde sapato, passando por cenouras até carros. Estranhem poucos que são donos de tudo.

Não naturalizem que o sistema capitalista destrua a natureza e nada podemos fazer. Percebam que nascemos bebês, a única coisa que sabíamos fazer sem que nos ensinássemos, era chorar e mamar. O resto, nós aprendemos.

E tudo que aprendemos, podemos aprender diferente. Podemos estranhar, podemos passar a não achar natural. Podemos perceber que o mundo é gerido por gente.

Estranhem quando ensinarem a vocês a não confiarem nas pessoas. A não gostar de gente. Não é natural. Nunca foi. É artificial. Estranhem.

Índios cuidavam de todas as crianças não importava se fossem seus filhos ou não. Em 2013 ainda existem. Alguns poucos tentam manter algo da sua cultura. A grande maioria precisa vender produtos feitos na China para sobreviver e alimentar-se. Estranhem!

Não naturalizem que o ser humano é um ser egoísta. Ele se torna. Se a grande maioria o ensinar a ser assim. Não pensem que nos mais de 20 anos que tenho de memória de vida, foi sempre assim, todo mundo aprendendo a detestar todo mundo. Cheguei a pegar um tempo que a coisa não era tão feia. Mas está ficando pior. Cada vez pior.

Estranhem a competição. Tem espaço para todo mundo. Mais importante que isso, o mundo produz comida para todo o mundo! Estranhem que algumas pessoas seguirão passando fome no mundo porque precisam estranhar um modo de vida de que quem não tem dinheiro não come. Até lá, não sei se usarão dinheiro, ou apenas uma tarjeta que possui dinheiro imaginário.

Estranhem o dinheiro imaginário. Afastem-se dele para analisá-lo. De onde sai. Eu sei que precisarão comer, e usar o plástico mágico. Mas não o naturalizem. Porque enquanto naturalizarem de tal forma consentida, quem estuda para manter tudo como está ou para deixar tudo pior, estará aperfeiçoando novas formas de ganhar mais dinheiro ainda em cima do dinheiro de vocês.

Questionem tudo. Questionem a vida. Questionem a Guerra. A indústria de armas. A indústria da Guerra. Porque certamente, eu estou em 2013 e até a gerações de vocês, muitos lugares estarão em disputa. Sabe quem ganha no vídeo-game? Quem tem mais arma, mais munição. Um dia, em sala de aula, em 2013, eu disse que aqui no Brasil ainda não estávamos vivendo o que vive a faixa de Gaza, porque o petróleo ainda manda na economia. Mas não faltam muitas gerações para a riqueza migrar para a água potável.

Onde tem maior concentração de água potável no mundo? Em 2013, não imaginamos um ambiente de guerra declarada. Mas estranhem! Muitas Guerras acontecem sem as pessoas saberem. Não vivi isso, mas na Ditadura Militar no Brasil, teve quem nem soubesse do que estava acontecendo!

Estranhem a TV. A TV aberta, a TV fechada. Estranhem a forma como as novelas induzem as famílias a se comportarem. Ao comportamento das mulheres. Das crianças.

Na cultura, cuidado! Não naturalizem o que o rádio impor a ouvir. Se aparecer um estilo musical novo, não desqualifiquem, entendam de onde veio e o que significa. E se criarem coisas novas, não se abatam com o conservadorismo de gente que terá minha idade. Porque a guitarra foi um instrumento elétrico que mais chocou o mundo, mais irritou a camada conservadora da sociedade, quando na realidade foi a abertura de grandes processos de gente que não se contentava com imposições. Com consentimentos.

Não é natural que muitas pessoas tenham propriedades privadas incontáveis. Perguntem de onde saiu tudo isso. Terras, quantos hectares de terra um único CPF é capaz de ter? Não é, não foi e nunca será natural.  

Respeitem as pessoas. Questionem com solidariedade. Nem todo questionamento precisa ser truculento. Escutem as pessoas. Pergunte a história delas. Pode ser o parente mais próximo. Suas histórias de vida ressignificarão também a de um núcleo familiar inteiro. Entendam seus comportamentos. Porque o ser humano é o único animal capaz de retomar sua história. Nas aldeias indígenas, os mais velhos eram os mais respeitados. Porque carregavam a aldeia de história. Em 2013, maltratamos velhinhos. Marginalizamos sabedoria. Ignoramos a história. Assim a matamos. E deixamos que os outros construam nosso futuro ao não enxergarmos nossa história.

Questionem suas certezas. Eu vivo questionando as minhas. Porque muitas vezes pensamos ter certeza das coisas.

Este termo “desnaturalização”, foi muito utilizado por uma amiga chamada Elen Tavares. Eu espero que ela fique velhinha junto comigo e possamos reescrever muita história.

Sinto a necessidade constante de “desnaturalizar” as coisas, as relações, as ações, tudo. Porque enquanto tem coisas em 2013 que são lindas, tem outras que não são. Das coisas lindas, contemplamos, dividimos, solidarizamos, afagamos, abraçamos, partilhamos, sorrimos!

Em 2013 ainda temos flores coloridas para contemplar! Ainda existem pássaros que não apenas pombos nos locais mais poluídos das cidades. Temos árvores. Nos lugares onde o capital não devastou, temos árvores! Não sei quantas teremos na geração de vocês. Mas onde houver alguma, sentem embaixo dela.  Lua iluminando um gigantesco mar! Sintam o cheiro da terra. O cheiro de uma flor. A cor de uma flor. O poder do sorriso.  Flores te fazem sorrir. Seja menino, seja menina. Não naturalizem que só meninas podem ter o prazer de ver a cor de uma flor. Uma borboleta colorida te faz prestar atenção em seu voo. Espero que conheçam as tantas borboletas que têm no Brasil. Será que ainda existirão joaninhas? Elas são fantásticas! Um inseto pequeno que dá alegria. Acreditem. Encontrei uma certa vez, na praia. Um lugar que jamais imaginaria encontrar uma joaninha. E ela me fez sorrir. Devolvi ela para o meio do mato, pois achei que morreria na areia.

Não tenham medo. Chamarão por uma eternidade, as pessoas curiosas da vida,  questionadoras, de chatas. Abstraiam... pois os chatos também sabem sentir satisfação, amor, prazer. 

Entre o que houver de novo, e o que conhecerem de velho, desnaturalizem e conheçam melhor. Porque não sei que tipo de carta poderão escrever aos netos de seus netos. Mas que as palavras sigam sendo para sempre, sobretudo, endereçadas a seres humanos capazes de se colocarem no lugar dos outros enquanto a ordem mundial seguir chamando-se de “Dona Injustiça”. No tempo que for.






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domingo, 12 de maio de 2013

Domingo das mães trabalhadoras deste Brasil

Tem tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo... e eu aqui, tentando descobrir se a Madrugada Pura Folha me traz alguma inspiração.

Texto, prova, trabalho, louça para lavar, relações para zelar, outras para cuidar, outras para amenizar, outras para enlouquecer, enfim.

Hoje é dia das mães. A criança suplica que saiamos de casa. Opção 1= shopping. Minha reação: "tá doida"?????????????????????????

Enfim... QUE DROGAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

Mas que bom. Porque ter acordado com um "tapete de 'te amos' mamãe" paga todo o preço de passar mais um domingo trabalhando sem parar.

Aliás, foram tantos bilhetes, tantos recados, tanto amor cuidadoso, implícito, tanta declaração, palavras tão puras e tão sábias... me senti a rainha do Egito.

Enquanto isso, escrevo este recado ouvindo Maria Bethania da minha mãe... que lindamente meteu-se na cozinha para fazer a comida que eu e o meu irmão mais gostamos... O clima hoje será de trabalho, mas de paz. Reestabelecendo a paz. Porque a semana desequilibra qualquer um.

Que paz me traz o canto da minha mãe. Aqui tem tudo. "Não há o que não haja". Tem natureza, tem café, tem flor para todo lado, tem musiquinha boa, tem tapete macio, tem iogurte, tem brisa, tem edredom macio, tem gaveta de "porcarias", como diz a Stella. E aqui tem, principalmente, a minha mãe.


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quarta-feira, 8 de maio de 2013

As pessoas correm para onde?

Gente do céu... eu não sei se é a desumanização do mundo ou se o mundo está se humanizando com outros valores. Andar na rua em Gravataí é um exercício constante de teste da sua autocapacidade de entender que nem sempre as pessoas desconhecidas deixam de ser pessoas de qualquer modo. Quanta falta de gentileza, quanta gente com a cara de quem vai te bater, quanta gente braba brigando por razões tão importantes quando o descobrimento da desintegração nuclear da bomba atômica!

Banrisul, 06 de maio... a fila do caixa prioritário mudou de lugar. NOOOOOOOOOOOOOSSSSSSSSSSSAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA QUE HORRORRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR

Pessoas gritando alto reclamando de alguma coisa nem sei bem o quê porque a fila mudou de lugar. E não eram os prioritários, eram os da fila dos "não-prioritários" mesmo.

Trânsito. Não demore mais de uma fração de milésimo de segundo com sinal aberto, tem um carro atrás que fará um teste com sua buzina pra ver se tá funcionando.
OU PIOR, o trânsito todo parou... e ninguém sabe o motivo. Poderia ter caído lá na frente um aerolito portando uma foca voadora, que mesmo assim virão carros atrás buzinando para aquilo que nem enxergam. Estou convencida, o carro imbeciliza o humano.

Ajuda a não carregar peso, caminhar, a chegar mais cedo, mas sinceramente,... imbeciliza... igual o face. Ajuda a falar com os amigos a saber notícias instantâneas, mas ao mesmo tempo imbeciliza...

Enfim, só sei que nada vezes nada sei.

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domingo, 5 de maio de 2013

Ser humano, a dor não tem cultura, nem cor, nem religião

Olha, em geral eu fico indignada com a quantidade de compartilhamento de imagem cheia de sangue e tragédias mil no face. Só que tem uma diferença entre o morbidismo exagerado de algumas pessoas que compartilham isso, e a necessidade talvez material de que a humanidade veja o que está acontecendo a cada respirada que damos. Puxa vida, preciso concluir uma aula sobre Guerra Fria para amanhã e aqui estou eu, aos prantos. Porque não tem como não chorar de raiva, de impotência, de nãoseiquesentimentoexpressar, ao ver imagens de pessoas (SIM, PESSOAS! E NÃO NÚMEROS!) sendo mortas por uma ideologia PODRE que nos damos ao trabalho de copiar mundo afora, defender com unhas e dentes sem desafiar o fluxo perfeito.
Que diferença há entre este pai e filho palestino e o pai e filho europeu? Norte-americano? Que diferença de sentimento pode haver entre doer mais em uns do que em outros? A dor da morte está em qualquer cultura, em qualquer religião, em qualquer território, em qualquer espaço!!!!

Estou aos prantos, a quem se importa!!!!
E muito mais me irrito com discursos neonazistas disfarçados de "caçadores de liberdade de expressão" de alguns de meus amigos do facebook e da vida real também!!!!  Precisa narrar o que acabou de acontecer nessa sequência de fotos na loucura dos soldados perante o povo palestino? Ele tenta desviar. Mas não consegue. O que faz esta criança agora? Liga para o 0800 da ONU?

Se você treme de indignação a qualquer injustiça em qualquer lugar do mundo, então somos companheiros! (Sem créditos, é de propriedade internacional e irrestritamente de direito a quem se importa)




"Ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da cor de sua pele, da sua origem ou da sua religião. Para odiar, é preciso aprender. E, se podem aprender a odiar, as pessoas também podem aprender a amar."
Mandela

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A disciplina do desejo

Domingo, solão, dia lindo. Eu acordada desde tão cedo, e já na ativa, já no mate. E por dentro um sentimento incrível de "preciso terminar de corrigir esse monte de coisa duma vez, clausura tem limite!" Por outro lado, um balãozinho dizia: "não sei o que pode haver de masoquismo nisso, mas eu sinceramente adoro esta função de passar tanta clausura pensando aula, corrigindo coisas. Botando elas em dia. Será que isso passa ou é coisa de principiante?"


Enquanto isso, na Sala da Justiça, fui buscar um livro para montar meu "canto da prô da flor amarela", e encontrei um livro de poesias. Putz. Dado momento da vida (já bem tarde), descobri que a atriz que eu pensava ser global e por si só já tacharia de mil coisas, nada mais é do que uma das mais antigas e belas mulheres que ousaram escrever eroticamente, ousaram desafiar o machismo, ousaram usar palavras proibidas, ousaram dizer que mulheres sentem tesão, desejo, loucuras. Descubro que sua inspiração era Manuel Bandeira, Maiakovski, Neruda Drummond, García Lorca. 
A preconceituosa podre, era eu, que não sabia de nada disso. E lê-la, me fez perceber que ela tem sensações muito parecidas com as minhas. Serão sensações de mulheres? Ou será que apenas algumas se identificam? Não sei. Só sei que ela falou por mim pelo menos em boa parte das suas páginas. Desde desejos, até imaginações, amor, paixão, atração, tesão, outras "mundanices" que toda mulher sente e não fala, enfim, muitas coisas misturadas. O livro era de um sebo. Velho. E de repente, o descubro novo para mim.
Ousada, livre, aberta, erótica, inteligente, de uma sensualidade pura e não estereotipada, eis a Bruna no meu Blog com tudo que ela tiver direito.

Tinham tantas que eu queria copiar aqui.

"Caso

Pode ser mais um capricho
pode ser uma paixão
pode ser coisa de bicho
pode não

pode ser já por destino 
pelos astros, pelos signos,
por uma marca, uma estrela
talvez já tivesse escrito
na palma da minha mão

talvez não

talvez até nem fique
nem signifique nada
nem me arranhe o coração
pode ser só uma cisma
pode estar só de passagem

ou não."
___________________________________
"A disciplina do desejo

não, não se doma o mar
como não se doma a vida
como não se domam os efeitos
dos raios gama sobre a superfície
acetinada do teu beijo.
Estamos sujeitos às marés
aos ventos, ao tempo, temperaturas
é inútil tentar
a disciplina do desejo.

Tentei domar meu sentimento
a inconstância do meu temperamento
volúvel como são as lágrimas
mas não sou tão vulnerável
às vazantes, desígnios, latitudes
aos ciclos e à força do mistério

tentei domar, disciplinar
não consegui
cedi na primeira noite enluarada
no fundo do quintal, atrás da caixa d´água."

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sábado, 4 de maio de 2013

Eclipse Oculto

Para variar, aprendendo. Altos momentos dialógicos com a minha mãe e a síntese descoberta foi essa. Nada como ter uma mãe que lembra de coisas que viu mil anos atrás. E não esqueceu.

Eclipse Oculto do Caetano Veloso. Me contou que ele escreveu essa música quase como uma "resposta" ao "bum" do "Você não soube me amar" da Blitz. Respondendo que "nosso amor não deu certo, gargalhadas e lágrimas [...] desperdiçamos os blues do Djavan. [...] não me queixo, eu não soube te amar, mas não deixo de querer conquistar uma coisa qualquer em você... o que será?"

Interessante. "Você não soube me amar" atribui culpa de  fora para dentro. Pelo menos o Caetano admite que "eu não soube te amar... mas não deixo de querer conquistar uma coisa qualquer em você".

Enfim. "Quero que tudo saia como som de Tim Maia, sem grilos de mim, sem desespero, sem tédio, sem fim."


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sexta-feira, 3 de maio de 2013

Sangrando

De chorar. Pegar bem fundo, bem dentro. Com força. Mil metáforas. Que pérola.

"Palavra por palavra eis aqui uma pessoa se entregando.
Coração na boca, peito aberto, vou sangrando.
São as lutas dessa nossa vida que eu estou cantando..."


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Furacão 2000

Esse vídeo é um tapa na cara. É a luta de classes da vida real. É a prova de que endemonizar o funk carioca é, também, um posicionamento ideológico de classe. Furacão 2000 e MC Catra com seu machismo não são a mesma coisa, mas vem da mesma coisa. E não adianta apenas criticar, é preciso debater. Conversar sobre. De onde saiu, por que é assim, por que ficou assim, o que há por trás destas palavras?

Vamos lá! Ao desafio. Dá trabalho.


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quinta-feira, 2 de maio de 2013

Roda Gigante

EU ANDEI DE RODA GIGANTEEEEEEEEEE!!!!
Com a minha mãe!!!!!!! Que fique registrado isso para minha celebração fúnebre! Andei num equipamento chamado "Evolution". Fiquei de cabeça para baixo... solta num cinto de segurança de metal que não era do meu tamanho! Eu tô magrinha! Quase escorreguei para fora do cinto! Eu escorregava ali e estava na VERTICAL de cabeça para baixo. Hoje meus braços doem. Tamanha força que fiz para não ficar suspensa totalmente preparada para exercer um 9,8 m/s²!!!!!!! Hahahhahaahhahaha eu simplesmente tenho a dizer para Newton que vá tomar no cu!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Foi a metáfora da morte!!!!! Mas eu fui. Venci. Com força, mas venci. Porque rodopiar em todos os sentidos e ainda por cima complemente de cabeça para baixo e segurar com a força do braço, foi um desafio. Puta que pariu! Nada poético. Eu não gritei, nem acredito. Apenas era capaz de expressar palavras de baixo calão que não tenho podido expressar nem no colégio nem na faculdade. HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA Na hora de descer do tal "Evolution", a expressão geral das pessoas era: "nunca mais!" Ninguém sorria! ahhahahahahahahhaahahah

Mas o melhor foi tentar poetizar um parque de diversões. Fiquei 50 minutos na fila do Trem Fantasma, esperando que uma caveira saltasse em mim e eu descobrisse que estava no Filme da Amelie Poulain. E? O parque fechou e desligou todas as luzes faltando duas pessoas para a minha vez. Resultado: nada de caveiras, nada de Amelie, nada de me fazer dormir imaginando estar num filme. Fiquei tão frustrada que afoguei minha mágoa comendo um churros.

Minha família riu de mim. Porque viram minha perseverança e insistência na fila absurda do Trem Fantasma.
Trens Fantasmas me lembravam mais que Amelie, me lembravam a infância, a adolescência, já fui em vários, não tinha medo mas gostava do friozinho na barriga que dava porque sabia que alguém ia me dar um susto.

Enfim, fica para a próxima encarnação.

Não ia sair um francês narigudo colecionador de fotos 3X4 vestido de caveira de dentro do Trem e arrebatar meu coração, e preciso me conformar com isso. Ainda bem que acabou tudo quase na minha vez.
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Roda Gigante (Chico Buarque)


Lembra, amor
Do tempo em que existia, amor
O beijo escondido no parque de diversões
E depois,
Brincando de brincar
Nos brinquedos parados
Nós dois.
Me leva ao céu, roda gigante
E o carrossel não pára um instante
Você e eu
Brincamos tanto
É que só o amor não era um faz de conta
Montanha russa emocionante
Túnel do amor apaixonante
Tapete mágico, aviãozinho, trem fantasma
E a noite então
Lembra você, mas qual você
Não lembra não.

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"Os opostos se distraem. Os dispostos se atraem"

Realejo

Será que a sorte virá num realejo?
Trazendo o pão da manhã A faca e o queijo
Ou talvez... um beijo teu
Que me empreste a alegria... que me faça juntar
Todo resto do dia... meu café, meu jantar
Meu mundo inteiro... que é tão fácil de enxergar...
E chegar
Nenhum medo que possa enfrentar
Nem segredo que possa contar
Enquanto é tão cedo
Tão cedo
Enquanto for... um berço meu
Enquanto for... um terço meu
Serás vida... bem-vinda
Serás viva... bem viva
Em mim
Será que a noite vira num vilarejo vejo a ponte que levara o que desejo admiro o que há de lindo e o que há de ser... você
Enquanto for... um berço meu
Enquanto for... um terço meu
Serás vida... bem-vinda
Serás viva... bem viva
Em mim
"Os opostos se distraem Os dispostos se atraem"



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terça-feira, 30 de abril de 2013

Das fortalezas e das fraquezas


Das fortalezas e fraquezas

Há horas sinto vontade de escrever sobre o que me fortalece. Sobre o que me põe a enfraquecer.
Como sempre, tenho vontade de escrever de repente. E na vida, não há notebooks de repente.
Foi na calçada do Parque da Redenção. Foi hoje, 30/04, terça-feira, vi muito daquilo que me mantém e contraditoriamente me detém, contém e retém.

As fraquezas, as fortalezas. A contradição da vida. O movimento.

Vem a fraqueza quando vejo pessoas caminhando desgovernadamente pelas calçadas sem olhar para cima, para o lado, para frente – muitas vezes.
Sinto a fortaleza ao caminhar vagarosamente numa estrada ensolarada, pegar aquele solzinho andando.

Vem a fraqueza quando descubro que um menino que conheço foi parar na FASE.
Sinto a fortaleza quando me dou conta de que meus ouvidos querem saber disso, ouvir o que têm estes meninos a dizer.

Vem a fraqueza quando me dou a quem não quer me receber.
Sinto a fortaleza quando percebo que o mundo é muito maior do que isto.

Vem a fraqueza quando espero para atravessar o sinal e vejo um trabalhador carregando materiais recicláveis em carrinhos carregados com sua própria força física e carros buzinando desesperadamente porque estão atrapalhando o trânsito.

Sinto a fortaleza de quando vejo a organização de determinados setores da sociedade que sequer temos conhecimento. Como o catadores, por exemplo. E que no entanto, tornam-se seres invisíveis, que só podem ser vistos se realmente for para tomarem uma buzinada.

Vem a fraqueza quando o simples ato de atravessar a Avenida Osvaldo Aranha se torna um desafio contra a vida. Ou máquinas de ferro te atropelam, ou pessoas querendo atravessar a rua rapidamente te atropelam também.

Sinto a fortaleza de tentar, pelo menos neste momento, observar tanto a vida que aquele que tem pressa de deixar de viver, siga em frente.

Vem a fraqueza de ver o quanto a rotina do ser humano tem o tornado um ser mal educado, tomado de desconfiança de todos, devastado pelo sentimento de querer dar-se bem a qualquer custo, seja ao custo de pisar em cima dos outros, seja de passar antes na fila, seja de ser ríspido no trânsito porque estás andando mais devagar que o fluxo da morte automotiva, enfim.

Sinto a fortaleza cada vez que repudio o mundo do olho-por-olho, dente-por-dente. Aprendi isso na sétima série. Decorei, é  Lei de Talião. Se um motorista de ônibus mal educado para em cima da faixa de pedestre, a Lei de Talião entra em vigor e o pedestre bate com força, ira, raiva e ódio na lataria do ônibus e xinga o motorista.

Vem a fraqueza de ouvir na sala de aula de minha escola, que os 10.000 protestantes a favor do não-aumento das passagens de ônibus de Porto Alegre eram “terroristas”.

Sinto a fortaleza ao dividir isso com meus queridos e amados irmãos de alma que adotei, que me ajudaram a organizar as ideias para dar a boa resposta sobre isso. Porque eu era, naquela noite, uma terrorista! Molhada da chuva, mal conseguia caminhar de tanta água que caía. Quase fiquei doente, com dor de garganta. E as passagens dos trabalhadores foram garantidas mais baratas por tantos terroristas na rua.

Vem a fraqueza de ouvir um cantor que me lembra alguém.

Sinto a fortaleza quando descubro que tinha “Axé Blond” gravado no meu pendrive, não entendo até hoje porque, e isso me fez esquecer completamente o tal cantor anterior.

Vem a fraqueza de precisar dormir vinte minutos depois que almoço, quando me dou a este luxo de almoçar, e ser criticada porque tirar uma pestana é “vagabundagem” mesmo tendo acordado tri cedo.

Sinto a fortaleza quando realmente consigo tirar esta sesta e azar é do Papa Dom Corleone Pio Francisco de Paula IV.

Vem a fraqueza quando percebo que fome dói. E quem tem fome, não consegue refletir, pensar, raciocinar direito, porque estômago dói. E tem gente com fome ainda. Em Porto Alegre. No Brasil. No mundo.

Sinto a fortaleza quando vejo tanta gente que trabalha na tentativa de transformar tudo isso. Quando escuto relatos de experiências mais variadas. Quando há vontade pública, política e social.

Vem a fraqueza quando um viciado em crack se aproxima e a sociedade me obriga a ter medo dele. Medo do assalto. Medo de ser ingênua.

Sinto a fortaleza quando me dou conta de que não há a menor possibilidade de eu viver angustiada me cuidando para não ser pega, porque a humanidade está adoecida.

Vem uma fraqueza quando me dizem para que eu seja mais “esperta, ligada, desconfiada”. Que deixe de ser espontânea, ingênua. Sinto uma enorme fraqueza quando me forçam a desconfiar ou destituir alguém.

Sinto uma fortaleza sem tamanho quando me convenço que quem é mal intencionado não é responsabilidade minha e não tenho ingerência sobre sua má intenção naquele momento. Se quiser, me mente. Se quiser, me assalta. Se quiser, me trova. Se colar, colou. Se não, não fico buscando alimentar o individualismo extremo. 
Cada um seja o que é se aproxime daquilo que mais lhe pareça. De grupos que se pareçam. Por isso tenho me afastado um pouco do mundo facebookeano.

Vem uma fraqueza quando vejo pessoas que são violentas tanto fisicamente, quanto psicologicamente, compartilhando suas mil opiniões de sabedorias, filosofias, e até religiões que pregam paz, e na vida real não são nada daquilo. Na vida real gritam, xingam, humilham, batem, falam o tempo todo da vida alheia, criticam até o vôo dos pássaros sem nem nunca ter visto um voar.

Sinto uma fortaleza de ter entrado no facebook nas últimas três ou quatro semanas, umas três vezes no máximo. E que fortaleza! Existem limpezas na alma que podem ser com ervas, com religião, com meditações, com diversas formas. Mas uma grande recomendação para quem não aguenta mais um mundo tão injusto e que alimenta uma vasta gama da classe trabalhadora que fica só compartilhando o mal ideológico da humanidade, é realmente entrar menos no facebook. Só desligar a televisão não adianta.

Vem uma fraqueza quando vejo uma pessoa com duas muletas tentando atravessar uma das ruas mais movimentadas de Porto Alegre.
E essa fraqueza toma conta de mim e não encontro uma fortaleza a não ser me dar conta de que os ônibus, os motoqueiros, os carros, andam cada dia mais rápido e cada vez mais pessoas idosas terão menos espaço ainda nessa sociedade que não respeita nem o corpo e nem a sabedoria de quem vive há mais tempo.

Senti uma fortaleza de perceber que era jovem o bastante para viver tanta coisa ainda...

Vem uma fraqueza ao pensar não ser justo um envelhecimento desrespeitoso. Onde construímos isso nessa sociedade “fast-tudo”?


Vem uma fraqueza quando não se pode ser o que se tem vontade, de fazer o bem que lhe bem convier. De ser afetuoso nas situações mais absurdas.

Sinto uma fortaleza quando consigo. Quando uma aluna levanta-se de sua classe, vai até mim e me diz: "professora, eu penso exatamente tudo isso que a 'senhora' falou". O assunto era luta contra o machismo.

Vem uma fraqueza quando vejo muitos de um "prédio azul" estudar e respirar dia e noite a educação mundial e no entanto não perceber o que acontece no muro fora da universidade. Sequer se dão conta do que se passa nos outros espaços, no entorno, na calçada da rua.

Sinto uma fortaleza incomparável quando alguém me vê, e me dá um abraço. Que cala, mas que sente.

Vem uma fraqueza quando a poesia é triste.

Sinto uma fortaleza quando a música é vigorosa.

Vem uma fraqueza quando lembro que pouco andei prestando atenção nas flores nos últimos anos.

Imediatamente sinto uma fortaleza quando olho para minhas florzinhas. Elas sorriem. Acredite.

Vem uma fraqueza quando lembro que contemplei a lua tão poucas vezes em 30 anos.

Sinto uma fortaleza de alimentar-me dela diariamente. Seja da cor e do tamanho que estiver.

Vem uma fraqueza quando as pessoas se medem pela quantidade de penduricalhos caros que compram. Em shoppings, em lojas carérrimas, pagam os mais absurdos preços por algo que talvez sua própria alma não permita que os outros percebam com os próprios olhos.

Senti hoje uma fortaleza, pois ouvi um singelo comentário do florista: “tem pessoas que precisam gastar muito dinheiro para ficarem bonitas. Tem pessoas que são bonitas sem nada disso”. Talvez essas pessoas que precisam relacionar sua autoestima pelo seu nível de consumo, jamais percebam o quanto uma flor é bela. Custa barato. Não vai no pé, não se usa no cabelo, nem na cintura. Apenas se aprecia na alma. E pode brilhar mais que diamante.

E a minha maior fortaleza, é exatamente saber que não estou só com todas as minhas fraquezas. Porque quanto mais pessoas se importam com estas fraquezas, mais se é capaz de praticar a fortaleza coletivamente. 

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quarta-feira, 17 de abril de 2013

Subvertendo...

Subverti! Subversão, resistência, transgressão. Palavrinhas-chave do semestre. Gramsci. Que medo!!!!!!!!!! Apesar desse blog ser meu, de minha posse e propriedade (não-privada, porque paira pelo ar e qualquer um pode ler), vou ter que escrever por metáforas. Estágio probatório, né, o sistema me manda ser bem obediente. E assim vou. Que vontade pulsante de escrever uma TESE sobre o que eu ouvi hojeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee! Resumindo: Viva Beethoven e a 9ª sinfonia! AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! O que estamos fazendo? Não decepe um cérebro humano! A criatividade! A espontaneidade! Pelo contrário, vamos conversar, vamos criticar, analisar, falar sobre, e não simplesmente atribuir valor e punir. Em nome do quê e de quem estamos mentindo? Estamos pregando para uma geração inteira que precisam estancar a si próprios em nome de virarem adultos e não poderem ser quem quiser. E atribuindo juízo de valor negativo sobre aquilo que não vem de si mesmo. O que vem do outro, em geral, não presta. Se for de gerações mais novas então, pior ainda. Não sei se posto a música do Pink Floyd The Wall ou se posto a nona sinfonia mesmo. O velho e novo. QUAL A SÍNTESE? Neste caso, a síntese é obedecer ao poder pré-estabelecido pela convenção.

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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O show do Jamiroquai em Floripa

Faz quatro dias que eu to mal não sei nem do quê. Tudo começou domingo. Estava tudo tranquilito, no más... até que envio um recado a um amigo perguntando o que poderia ser feito de bom na ilha de Santa Floripa num carnaval. E ele me diz: eu tenho um ingresso para o show do Jamiroquai e como tu não me respondia, ia passar adiante. Tudo deu certo e na hora certa. Eu!!!!!! Vendo Jamiroquai????? Jay Kay bem de perto? Coincidência ou não, no dia antes de viajar, resolvi botar o dvd no quarto e assistir "Jamiroquai ao vivo em Montreal". Bah! Um dvd do caralho! Eu sempre gostei do Jamiroquai porque imitava tudo que o meu irmão gostava. E dessa macaquice de imitação, acredito não ter atingido a tudo que ele gosta, mas boa parte foi assimilada. E ele é uma pessoa que nos influencia tanto, que até minha mãe passou a gostar de muitas das suas coisas, porque escutava o som tão alto, tão alto, tão alto, que sabíamos as letras das músicas das suas bandas preferidas por osmose. Com Jamiroquai não foi diferente. Ele aprendeu a gostar porque um grande herói, seu tio Betho Costa, gostava e o apresentou. O Betho era meio assim como o Amon, gostava de música e mostrava para os outros. Cada vez que o Amon voltava de uma temporada com o Betho em Floripa ou em qualquer lugar, voltava com um repertório novo. Blues, Soul, e outras coisas, inclusive punk rock, foi herança do Betho. E algo dessa herança chegou até mim. Nossa herança por parte da mãe, vem muito voltada para a música brasileira, jazz, coisas mais lights. O Jamiroquai é como se fosse uma coisa que ouvia desde pequena mas era inatingível. Tocaram no Brasil há uns 15 anos atrás ou mais, e nunca mais. Eu, jamais me imaginei indo num show deles porque não sei qual é o seu paradeiro. São ingleses mas não sei por onde tocam. Um mito da fifizice que eu jamais pensei que viveria para ver! Inclusive porque o Jay Kay tá ficando velho e seus passos meio "space cowboy" já não são mais como de antigamente. Ele ofegava, suava, cansava, dava para ver que já não é mais aquela piração total com mil piruetas. Mas isso não tirou a graça, muito pelo contrário, estava lindo, querido e aclamadérrimo por um povo que realmente era fã deles ali assim como eu. Não vou comentar que muita gente chegou naquela casa de shows depois que o show estava quase acabando, porque queriam ir só para a "festa" e mal conheciam o Jamiroquai. E também não vou comentar sobre os camarotes vips. Eram o quadro da dor. Meninas super produzidas com cara de quem não via a hora do show terminar porque não sabiam o que estava tocando ali. Eu não sei, deve ser alguma espécie de status dizer que foi num camarote, para ficar com cara de bunda ouvindo a banda que para mim era a mais desejada, como se fosse um sonzinho ambiente chato que não acaba nunca. Eu mal prestei atenção nisso, porque gritava muito, pulava muito, suava, cantava, nossa! Saí de lá rouca. E pensei: eu ganhei, de graça, e fui lembrada por esse amigo tão querido, o Rodrigo Borges Barcelos, não pode ser verdade! Ainda brinquei com ele, só falta eu quebrar o pé amanhã, porque é muita sorte a minha!!!!!!!! Pois bem, não quebrei o pé, mas estou há quatro dias de cama com febre e uma coisa na laringe, na faringe, nesses negócios aí, e não passa! E a febre não passa! E eu não consigo dormir de dor! Mas vai passar! E a memória da emoção e do show do milênio que eu fui, isso não vai passar!!!!!!!!!! Inesquecível!!!!!!!!!!!!!!!! Doente, mas emocionada!!!!! Nossa, como gritei! Há muito tempo não gritava tanto. Me senti uma adolescente. Mas foi pura emoção.

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sábado, 2 de fevereiro de 2013

Uma coisa só...

Porque eu passei uns quinze anos me preocupando só com o mundo. E tinha raiva de quem se preocupava consigo e com os seus, apenas. Porque eu esquecia de alimentar a alma muitas vezes. O tempo de se preocupar com o mundo era o tempo da vida. Quando vi, me preocupei tanto em mudar o mundo que pouco me preocupei comigo. Me sentia culpada se faltasse uma reunião dessas que se faz para mudar o mundo. Hoje me sinto culpada de não ter faltado mais essas reuniões para cuidar de mim e dos meus. Porque somente cuidando de mim e dos meus, que consigo ter paz para mudar o mundo. E cuidando do mundo, percebo que cuido de mim e que os meus são todos aqueles precisam de um mundo melhor. Porque somos uma coisa só.

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sábado, 26 de janeiro de 2013

Amigo é coisa para se guardar...

Há muito tempo eu venho pensando nisso. E nunca expresso por escrito de forma organizada. Como hoje eu estou, digamos, com a mente relaxada... resolvi escrever. A família é importante, os amores... tudo isso faz parte da vida. Mas os amigos, putz! São os campeões de clichês, talvez porque seja real mesmo esse negócio de que amigo não se tem por obrigação. Amigo é escolha. Ninguém é amigo para agradar. Ninguém é amigo porque tem que ser amigo. Ninguém é amigo por obrigação. Ninguém é amigo porque pagaram-lhe um "dote" medieval e é preciso estar com ele. Ninguém é amigo porque um achou o outro bonito e resolveu ser. Amigo é uma coisa sem explicação. As pessoas são totalmente diferentes, e, no entanto, se adoram! Amigos genuínos que confiamos nossos segredos, que dividimos nossa alegria, nossa tristeza, são engrenagens muito especiais para fazer funcionar a máquina da vida. Não importa quantos sejam. O que importa é o quanto são especiais. Tem amigos que nunca se veem e não perdem essa sensação. Tem amigos que se veem sempre, que se trocam sempre. Tem amigos que é só de vez em quando mas um sabe o que o outro pensa e como se sente. Tem amigo de todas as cores, de todos os sabores e de muitos amores! É um eterno "respeitar" e aprender sobre a forma e o conteúdo do outro. É um ensino constante. Amigo pode ser um poço de crítica mas também é um baú de esperança. Principalmente quando não estamos muito bem. Tem os amigos previsíveis, aqueles que a gente já sabe o que vai falar sobre nós. Tem os imprevisíveis. Tem os mais críticos, os mais tranquilos, os mais chatos, os mais engraçados. Tem os mais abobados. Tem os mais estudiosos... tem os que se colocam na nossa pele. E tem aqueles que nos desafiam a ousar sempre. Eu tenho a sorte de ter amigos e amigas desde pequena, até hoje. E também tenho a sorte de ter amigos que conheci há pouco e parece que os conheço desde que nasci. Eu não sei o que seria da minha constituição enquanto ser humano se não fossem essas relações de troca. Quando estava casada, e agora solteira, continuo com a mesma intensidade nas amizades que sempre cultivei, com a mesmíssima força. Porque amigo é amigo. Desde as piores situações até aquelas em que a gente imagina com quem vai dividir o dinheiro da Mega Sena acumulada da virada... hehehehehe (eu não jogo na mega sena, tá, isso foi uma piada). Se um dia eu morasse bem longe destes amigos todos, acho que sofreria um bocado. Porque todos eles fazem parte da minha vida. Cada um de um jeito, cada um com uma especialidade e uma personalidade sui generis... mas sobretudo pessoas que me fazem compor o meu "todo". MEUS AMIGOS TODOS!!!!!!!!!!!! EU AMO VOCÊS!!!!!!!!!!!!

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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

que venha o novo...

Esse blog deixou de ser feito de devaneios meus para se tornar "meu querido diário". Por isso resolvi parar com essa cachaça. Pelo menos hoje. Porque as minhas decisões são tão veementes que basta dormir e acordar para ter mudado completamente de ideia. Isso é o que dá estar em pleno estado de férias e em plena crise de ansiedade... O que me agrada é que cada crise se transforma numa nova composição feita de uma misturança entre o velho e o novo. E que surjam as novas crises para que eu nunca morra de nenhuma fórmula eterna! Se tivesse que fazer parte de uma fórmula eterna morreria de desgosto antes.

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