quinta-feira, 30 de julho de 2009

Do ventre nasce um novo coração


Segunda-feira passei por aquele momento em que paramos para filosofar e ressignificar o sentido da vida. Muita gente passa por isso quando fica gravemente doente, ou quando perde um ente querido, ou quando acontece algum acidente, ou quando alguém fica doente para morrer.
O ideal seria nunca precisar passar por esses momentos. O bom mesmo seria se ninguém precisasse ir parar num hospital a não ser para fazer um parto.
Por mais simples que uma cirurgia possa parecer, sempre tem os “poréns...”
E desses poréns é que a gente se borra de medo. Eu pelo menos, morro de medo de anestesias e coisas afins.
Ontem minha mãe fez uma cirurgia na coluna bem na parte de cima. Me amoleci de cima abaixo por diversas vezes. Tinha tudo para dar certo e de fato deu. Mas cada vez que a recepção do bloco chamava o familiar dos fulanos de tal, dava um medo de ser eu e o Amon, e dava um medo de ouvir que qualquer coisa possa ter dado errado. Esse medo me deixou a flor da pele. Já estava ficando com dor de barriga, com enjoo, com ânsia de vômito, com tudo que o meu sistema nervoso poderia me oferecer.
Não apenas por isso, mas essas horas são importantes para o momento da parada. Mas a parada para pensar no sentido das coisas e que para morrer, basta estar vivo... (é óbvio mas a gente prefere não lembrar muito disso).
Penso muito nisso sempre, embora o que saia para fora sejam mais espinhos do que rosas...
Mas a minha mãe não tem igual. Esse pressuposto parece ser meio óbvio. Mas não é. Tem gente que tem mãe legal, tem gente que tem mãe boazinha, tem gente que tem mãe bruxa...
A minha mãe é a categoria de mãe “sem explicação”. Ela me torra um pouco o saco de vez em quando, mas ela é tudo que eu sou. Sem parecer papo de “arquivo confidencial do Faustão”, a minha mãe é a minha referência, não apenas por ser minha mãe, mas por ser a pessoa que é. Ela tem um senso de humanidade e um coração que não cabe nela. Gostaria de colar aqui embaixo, o que escrevi no meu Memorial Descritivo para fazer a seleção do mestrado na UFRGS, sobre a minha mãe e a minha vida... Não sei se algum dia ela já leu, mas lá vai:
“Os que mandam acreditam que melhor é quem melhor copia. A cultura oficial exalta as virtudes do macaco e do papagaio. A alienação na América Latina: um espetáculo de circo. Importação, impostação: nossas cidades estão cheias de arcos do triunfo, obeliscos e partenons. A Bolívia não tem mar, mas tem almirantes disfarçados de Lord Nelson. Lima não tem chuva, mas tem telhados a duas águas e com calha. Em Manágua, uma das cidades mais quentes do mundo, condenada à fervura perpétua, existem mansões que ostentam soberbas lareiras, e nas festas de Somoza as damas da sociedade exibiam estolas de raposa preteada.” (GALEANO, 2002, p. 159)

Esta pequena crônica de Eduardo Galeano chamada A alienação/2 reflete o tom ao qual inicio meu memorial descritivo. Trata-se da explicação na qual sinto necessidade em expressar, no que se refere às minhas escolhas não apenas profissionais, mas também ideológicas dentro de uma conotação de visão de mundo.
Esse processo inicia-se na infância, onde minha mãe sempre trabalhou entre eu e meu irmão, a idéia de “importar-se” com o que acontece fora da nossa casa. Ela é formada em Ciências Sociais, professora do estado e antiga militante política. Desde cedo éramos estimulados a entender porque havia meninos no sinal da cidade pedindo esmolas, e porque algumas coleguinhas do meu colégio precisavam de tênis de todas as cores e marcas. Quando muito, não tinha respostas para todas as perguntas, mas estes questionamentos sempre fizeram parte da nossa realidade. Estes fatores externos à vida cotidiana das famílias classe média na qual eu estava inserida, para a minha família não se colocavam alheios a nós. E por conta disso, muitas vezes éramos os “rebeldes” dos grupos, tanto eu (criança e adolescente), quanto minha mãe, que, por muitos momentos passava horas e horas envolvida com trabalhos e mobilizações sindicais.
Com isso, minha vida adulta não poderia ter outro destino, senão o de importar-se. Quando falo em importar-se, estou me referindo à noção de entender, de perguntar, de procurar, de fazer parte, de conscientizar, de trabalhar, de praticar, de teorizar, de ser um curioso, de pesquisar, de sensibilizar. No modo de ver o mundo ao qual fui criada, a concepção de coletividade esteve lado a lado mesmo que ainda não tivesse idade para entender os fundamentos do materialismo dialético, ou talvez das teses que Marx nos traz, ou quem sabe o conceito de “libertação” de Paulo Freire. Ou seja, nesse modo diferente de pensar a minha existência e a existência do outro dentro da realidade na minha infância, é que foi se dando sutilmente a prática, ainda que sem a teoria.
"

Além deste Memorial de 2008, havia feito o de 2007 também neste tom, talvez até um pouco mais detalhado.
Esses momentos de “parada para pensar” fazem passar um filme na cabeça da gente. E na minha cabeça só fez passar o que sempre passa, só que agora de forma cada vez mais forte: eu quero a minha mãe aqui, do meu lado, pertinho de mim, feliz, com saúde, namorando, rindo, reclamando, enfim, aqui, vivendo.
Ela só tem 51 anos e muita vida pela frente.
Mais uma vez, repito que a minha mãe é a minha bússola. E sem ela eu perco o norte, o sul e qualquer outra direção.
Mãe, és a mulher mais afudê que eu conheço e quero ainda muito aprender contigo.

Continue lendo >>

terça-feira, 21 de julho de 2009

Nosso Amigão


Eu ontem redescobri um grande amigo que na verdade nunca deixou de ser. Talvez a rotina afaste as pessoas e a amizade fique num segundo plano. Estar próximo e presente pode não ser tudo numa amizade. Acho que o que vale mesmo é a lealdade a que se leva o título de "amigo". Nossa, eu tenho tantos amigos que não caberia aqui elencar. Tem os que eu alugo pra fazer dos seus ouvidos um grande "penico", tem os que eu desconto todo meu stress, tem os que só pegam as partes boas e educadas de mim (esses são bem poucos ehehehhehee), tem os universais, que pegam todas as minhas partes, tem os que só vejo de vez em quando, mas quando vejo sei que posso dizer o que eu quiser. Tem os amigos mais que amigos que são até meus parentes, como a minha mãe, por exemplo, que quando eu era criança todas as meninas faziam competição de quem é a melhor amiga de quem, e eu sempre respondia que era a minha mãe. E se me perguntassem agora, ela certamente diria que não é verdade, mas ela é e sempre será minha melhor amiga, até que se prove o contrário ou que a Stella passe a roubar seu posto. Às vezes eu tenho medo que ela me critique, e acabo botando os pés pelas mãos, mas sei que esta sempre ali pra eu contar e pedir o conselho que quiser. Na verdade a minha mãe é tema pra uma postagem única aqui.
Sem querer esse amigão (ou será que foi de propósito? Acho que não) acabou fazendo uma ação simbolicamente no dia 20 de julho, dia do amigo. Me emocionei ontem com o método e o conteúdo desse bom amigo de ajudar uma outra amiga. Não tenho como descrever suas palavras medidas e colocadas quase que "liricamente" uma após a outra. Puxa vida, que formulação, que relação, que tudo. Eu acho que nunca havia visto tamanha profundidade na forma de falar e até mesmo de pensar e conseguir organizar o pensamento. Acho que esse meu amigão conseguiu reencarnar o Paulo Freire e usa cada vez mais de uma pedagogia totalmente límpida, bonita, leve e profunda. Não tenho mais palavras pra admirar e verbalizar o que senti ontem, e da prova de amizade refletida na preocupação desse meu amigo, que ajudando uma outra amiga, ajudou outros amigos também. Esses outros amigos ele ajudou certamente ensinando uma humanidade cada vez maior que se refletirá em outras relações de amizade e outras práticas, e de como uma amizade pode ser a coisa mais fantástica que existe.
Meu Amigão Amon, e Amigão de muita gente, TE AMO.

Continue lendo >>

  ©Template by Dicas Blogger.

TOPO