terça-feira, 30 de abril de 2013

Das fortalezas e das fraquezas


Das fortalezas e fraquezas

Há horas sinto vontade de escrever sobre o que me fortalece. Sobre o que me põe a enfraquecer.
Como sempre, tenho vontade de escrever de repente. E na vida, não há notebooks de repente.
Foi na calçada do Parque da Redenção. Foi hoje, 30/04, terça-feira, vi muito daquilo que me mantém e contraditoriamente me detém, contém e retém.

As fraquezas, as fortalezas. A contradição da vida. O movimento.

Vem a fraqueza quando vejo pessoas caminhando desgovernadamente pelas calçadas sem olhar para cima, para o lado, para frente – muitas vezes.
Sinto a fortaleza ao caminhar vagarosamente numa estrada ensolarada, pegar aquele solzinho andando.

Vem a fraqueza quando descubro que um menino que conheço foi parar na FASE.
Sinto a fortaleza quando me dou conta de que meus ouvidos querem saber disso, ouvir o que têm estes meninos a dizer.

Vem a fraqueza quando me dou a quem não quer me receber.
Sinto a fortaleza quando percebo que o mundo é muito maior do que isto.

Vem a fraqueza quando espero para atravessar o sinal e vejo um trabalhador carregando materiais recicláveis em carrinhos carregados com sua própria força física e carros buzinando desesperadamente porque estão atrapalhando o trânsito.

Sinto a fortaleza de quando vejo a organização de determinados setores da sociedade que sequer temos conhecimento. Como o catadores, por exemplo. E que no entanto, tornam-se seres invisíveis, que só podem ser vistos se realmente for para tomarem uma buzinada.

Vem a fraqueza quando o simples ato de atravessar a Avenida Osvaldo Aranha se torna um desafio contra a vida. Ou máquinas de ferro te atropelam, ou pessoas querendo atravessar a rua rapidamente te atropelam também.

Sinto a fortaleza de tentar, pelo menos neste momento, observar tanto a vida que aquele que tem pressa de deixar de viver, siga em frente.

Vem a fraqueza de ver o quanto a rotina do ser humano tem o tornado um ser mal educado, tomado de desconfiança de todos, devastado pelo sentimento de querer dar-se bem a qualquer custo, seja ao custo de pisar em cima dos outros, seja de passar antes na fila, seja de ser ríspido no trânsito porque estás andando mais devagar que o fluxo da morte automotiva, enfim.

Sinto a fortaleza cada vez que repudio o mundo do olho-por-olho, dente-por-dente. Aprendi isso na sétima série. Decorei, é  Lei de Talião. Se um motorista de ônibus mal educado para em cima da faixa de pedestre, a Lei de Talião entra em vigor e o pedestre bate com força, ira, raiva e ódio na lataria do ônibus e xinga o motorista.

Vem a fraqueza de ouvir na sala de aula de minha escola, que os 10.000 protestantes a favor do não-aumento das passagens de ônibus de Porto Alegre eram “terroristas”.

Sinto a fortaleza ao dividir isso com meus queridos e amados irmãos de alma que adotei, que me ajudaram a organizar as ideias para dar a boa resposta sobre isso. Porque eu era, naquela noite, uma terrorista! Molhada da chuva, mal conseguia caminhar de tanta água que caía. Quase fiquei doente, com dor de garganta. E as passagens dos trabalhadores foram garantidas mais baratas por tantos terroristas na rua.

Vem a fraqueza de ouvir um cantor que me lembra alguém.

Sinto a fortaleza quando descubro que tinha “Axé Blond” gravado no meu pendrive, não entendo até hoje porque, e isso me fez esquecer completamente o tal cantor anterior.

Vem a fraqueza de precisar dormir vinte minutos depois que almoço, quando me dou a este luxo de almoçar, e ser criticada porque tirar uma pestana é “vagabundagem” mesmo tendo acordado tri cedo.

Sinto a fortaleza quando realmente consigo tirar esta sesta e azar é do Papa Dom Corleone Pio Francisco de Paula IV.

Vem a fraqueza quando percebo que fome dói. E quem tem fome, não consegue refletir, pensar, raciocinar direito, porque estômago dói. E tem gente com fome ainda. Em Porto Alegre. No Brasil. No mundo.

Sinto a fortaleza quando vejo tanta gente que trabalha na tentativa de transformar tudo isso. Quando escuto relatos de experiências mais variadas. Quando há vontade pública, política e social.

Vem a fraqueza quando um viciado em crack se aproxima e a sociedade me obriga a ter medo dele. Medo do assalto. Medo de ser ingênua.

Sinto a fortaleza quando me dou conta de que não há a menor possibilidade de eu viver angustiada me cuidando para não ser pega, porque a humanidade está adoecida.

Vem uma fraqueza quando me dizem para que eu seja mais “esperta, ligada, desconfiada”. Que deixe de ser espontânea, ingênua. Sinto uma enorme fraqueza quando me forçam a desconfiar ou destituir alguém.

Sinto uma fortaleza sem tamanho quando me convenço que quem é mal intencionado não é responsabilidade minha e não tenho ingerência sobre sua má intenção naquele momento. Se quiser, me mente. Se quiser, me assalta. Se quiser, me trova. Se colar, colou. Se não, não fico buscando alimentar o individualismo extremo. 
Cada um seja o que é se aproxime daquilo que mais lhe pareça. De grupos que se pareçam. Por isso tenho me afastado um pouco do mundo facebookeano.

Vem uma fraqueza quando vejo pessoas que são violentas tanto fisicamente, quanto psicologicamente, compartilhando suas mil opiniões de sabedorias, filosofias, e até religiões que pregam paz, e na vida real não são nada daquilo. Na vida real gritam, xingam, humilham, batem, falam o tempo todo da vida alheia, criticam até o vôo dos pássaros sem nem nunca ter visto um voar.

Sinto uma fortaleza de ter entrado no facebook nas últimas três ou quatro semanas, umas três vezes no máximo. E que fortaleza! Existem limpezas na alma que podem ser com ervas, com religião, com meditações, com diversas formas. Mas uma grande recomendação para quem não aguenta mais um mundo tão injusto e que alimenta uma vasta gama da classe trabalhadora que fica só compartilhando o mal ideológico da humanidade, é realmente entrar menos no facebook. Só desligar a televisão não adianta.

Vem uma fraqueza quando vejo uma pessoa com duas muletas tentando atravessar uma das ruas mais movimentadas de Porto Alegre.
E essa fraqueza toma conta de mim e não encontro uma fortaleza a não ser me dar conta de que os ônibus, os motoqueiros, os carros, andam cada dia mais rápido e cada vez mais pessoas idosas terão menos espaço ainda nessa sociedade que não respeita nem o corpo e nem a sabedoria de quem vive há mais tempo.

Senti uma fortaleza de perceber que era jovem o bastante para viver tanta coisa ainda...

Vem uma fraqueza ao pensar não ser justo um envelhecimento desrespeitoso. Onde construímos isso nessa sociedade “fast-tudo”?


Vem uma fraqueza quando não se pode ser o que se tem vontade, de fazer o bem que lhe bem convier. De ser afetuoso nas situações mais absurdas.

Sinto uma fortaleza quando consigo. Quando uma aluna levanta-se de sua classe, vai até mim e me diz: "professora, eu penso exatamente tudo isso que a 'senhora' falou". O assunto era luta contra o machismo.

Vem uma fraqueza quando vejo muitos de um "prédio azul" estudar e respirar dia e noite a educação mundial e no entanto não perceber o que acontece no muro fora da universidade. Sequer se dão conta do que se passa nos outros espaços, no entorno, na calçada da rua.

Sinto uma fortaleza incomparável quando alguém me vê, e me dá um abraço. Que cala, mas que sente.

Vem uma fraqueza quando a poesia é triste.

Sinto uma fortaleza quando a música é vigorosa.

Vem uma fraqueza quando lembro que pouco andei prestando atenção nas flores nos últimos anos.

Imediatamente sinto uma fortaleza quando olho para minhas florzinhas. Elas sorriem. Acredite.

Vem uma fraqueza quando lembro que contemplei a lua tão poucas vezes em 30 anos.

Sinto uma fortaleza de alimentar-me dela diariamente. Seja da cor e do tamanho que estiver.

Vem uma fraqueza quando as pessoas se medem pela quantidade de penduricalhos caros que compram. Em shoppings, em lojas carérrimas, pagam os mais absurdos preços por algo que talvez sua própria alma não permita que os outros percebam com os próprios olhos.

Senti hoje uma fortaleza, pois ouvi um singelo comentário do florista: “tem pessoas que precisam gastar muito dinheiro para ficarem bonitas. Tem pessoas que são bonitas sem nada disso”. Talvez essas pessoas que precisam relacionar sua autoestima pelo seu nível de consumo, jamais percebam o quanto uma flor é bela. Custa barato. Não vai no pé, não se usa no cabelo, nem na cintura. Apenas se aprecia na alma. E pode brilhar mais que diamante.

E a minha maior fortaleza, é exatamente saber que não estou só com todas as minhas fraquezas. Porque quanto mais pessoas se importam com estas fraquezas, mais se é capaz de praticar a fortaleza coletivamente. 

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quarta-feira, 17 de abril de 2013

Subvertendo...

Subverti! Subversão, resistência, transgressão. Palavrinhas-chave do semestre. Gramsci. Que medo!!!!!!!!!! Apesar desse blog ser meu, de minha posse e propriedade (não-privada, porque paira pelo ar e qualquer um pode ler), vou ter que escrever por metáforas. Estágio probatório, né, o sistema me manda ser bem obediente. E assim vou. Que vontade pulsante de escrever uma TESE sobre o que eu ouvi hojeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee! Resumindo: Viva Beethoven e a 9ª sinfonia! AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! O que estamos fazendo? Não decepe um cérebro humano! A criatividade! A espontaneidade! Pelo contrário, vamos conversar, vamos criticar, analisar, falar sobre, e não simplesmente atribuir valor e punir. Em nome do quê e de quem estamos mentindo? Estamos pregando para uma geração inteira que precisam estancar a si próprios em nome de virarem adultos e não poderem ser quem quiser. E atribuindo juízo de valor negativo sobre aquilo que não vem de si mesmo. O que vem do outro, em geral, não presta. Se for de gerações mais novas então, pior ainda. Não sei se posto a música do Pink Floyd The Wall ou se posto a nona sinfonia mesmo. O velho e novo. QUAL A SÍNTESE? Neste caso, a síntese é obedecer ao poder pré-estabelecido pela convenção.

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