domingo, 15 de julho de 2012

O trânsito.

Resolvi voltar a postar aqui, pois cheguei à conclusão que as coisas cotidianas que me tiram do sério não precisam ser postadas no facebook, pois lá dá e passa. Aqui fica pelo menos registrado. Quando eu morrer alguém por favor leia isso no meu velório! Vão ter que aturar minhas irritações mundanas até mesmo defunta!!!!!

O Trânsito

A exploração humana, a miséria e a fome me fazem tremer de indignação. Em última instância, sobre isso eu batalho nos fronts por onde ando. É o transversal e ao mesmo tempo a raiz, enfim.

Porém, o histórico e corriqueiro cotidiano que atiça todos os sentidos diariamente, compõe-se das mais diversas coisas/ horrores/ alegrias/ irritações. Uma delas é o trânsito. Pode parecer uma observação classe média que tem carro fazendo mimimi. Mas o trânsito abrange quem tem e quem não tem carro. Porque criança atropelada na beira da rua diz respeito às imprudências humanas. Trânsito não diz respeito só a carro, nem só a quem dirige. Raras situações dizem respeito ao acaso e ao azar. Boa parte das coisas ruins que acontecem no trânsito são previsíveis. O problema é que é tão veloz que muitas vezes pouco dá tempo de evitar o pior. Muitas outras coisas são óbvias que podem acontecer se agirmos daquela forma. E muitas vezes as pessoas seguem agindo da forma perigosa. Neste caso não se trata nem de azar nem de acaso, mas de previsibilidade e apostar na sorte mesmo. Imprudência.

Trânsito também significa transportar gente de diversas formas. E se tem gente, tem que ter cuidado. Cuidado é uma palavra muito vinculada ao feminino. Gostem as pessoas ou não, hoje ainda é assim. E pode ser por isso que a maioria das mulheres são motoristas exemplares no quesito "prezar pela vida".

Sair de casa tranquilamente e pegar um volante, significa injetar adrenalina na veia. Adrenalina maniqueistamente do "mal"... porque estressa ao invés de empolgar.
Quase não dirijo. Mas quando dirijo é sempre a mesma coisa. Seguramente não sou barbeira. E não sei a origem desse apelido para quem dirige "mal" e neste momento não estou afim de descobrir. Eu apenas questiono tudo, até o comportamento humano no trânsito. O que acontece é que o trânsito é uma escola de masculinização se pensar o homem-padrão-tradicional-da-sociedade-capitalista-competitiva de representação máscula, poderosa, corajosa, viril, o "homem gladiador". Resumindo:

Nem todo o motorista homem é babaca, mas todo motorista babaca é homem.

Todos é muita gente né, não vamos generalizar. Essa frase vale para 97% dos veículos e motoristas que se vê por aí, talvez tenham uns 3% de mulheres babacas que copiam o jeito idiotizante de dirigir para serem mais aceitas no asfalto.

Engraçado que quando alguém faz uma "barbeiragem" no volante, logo olhamos para o motorista. Se é mulher, já rola o comentário: Só podia ser mulher...

Faz um bom tempo que venho assistindo kamikazes do volante tentando se matar e matar quem estiver por perto, e quando o kamikaze passa, inevitavelmente eu penso: só podia ser homem.

É ruim pensar assim, eu sei, sou contra o sexismo, mas infelizmente as atitudes kamikazes do volante são muito masculinas. E constatar isso contra este comportamento de muitos homens (não todos) não significa ser sexista. Muito pelo contrário. O conceito histórico de "ser homem" e o de "ser mulher" tem tudo a ver com a construção desses comportamentos. A mulher é inúmeras vezes mais cuidadosa no trânsito do que os homens. Vejo poucas mulheres testando a velocidade dos seus carros e o nível da sua sorte cortando a frente dos outros e tudo mais. Muito poucas.

O trânsito é uma escola diária de como deseducar o ser humano de tudo que ele aprendeu na vida sobre relações sociais, sobre tolerância, sobre alteridade e sobre racionalidade.

O jeito idiotizante de dirigir se resume em:

- colar na bunda do carro da frente, ficar dando sinal de luz ou buzinando e te obrigar a pisar o pé para não ser chamada de "mulherzinha"
- cortar a frente de todo mundo (válido para motoristas de carro e de moto - ônibus nem se fala)
- ficar fazendo disputazinha com outro homem e sua máquina, pouco se importando se naquela velocidade não se deve andar dentro de bairros e ruas repletas de pedestres - como vi essa semana na minha cidade
- buzinar e fazer sinal de luz de forma totalmente sem paciência se um carro com uma placa de outra cidade ou até mesmo de outro estado não segue o fluxo corretamente porque não conhece - e fica na cara que não conhece. Exemplo são as pistas de "siga livre" quando a pista ao lado tem semáforo. É um pecado mortal o cidadão parar no "siga livre" porque primeiro enxergou a sinaleira e depois enxergou a placa... os estúpidos de plantão já saem xingando. Logo, dirigir na cidade dos outros é ERRADO, quer andar de carro, vá andar na sua cidade, não é? Geralmente o aviso abaixo de "choque" vem de homens impacientes. O mesmo serve por andar na contramão em ruazinha desconhecida de dentro de bairro que nem placa tem. A gente aprende com os homens impacientes na marra. Os homens super-educativos. É óbvio que não se tratam de todos os homens, já disse no começo e não vou ficar me repetindo para me defender. É só ler lá em cima.


Será que estes indicativos em lugares como São Paulo já são bem diferentes? Porque aqui em Porto Alegre ainda impera essa premissa deseducativa masculina.

Outra coisa que me causa espanto dentro da sua contradição:

Horário de pico. As mesmas pessoas que compartilham mensagens divinas, de autoajuda, de serenidade, de equilíbrio emocional, de amor, de respeito e de tudo mais, no horário de pico esquecem em que planeta estão. Jogam carros em cima das pessoas na faixa de segurança, cortam a frente, xingam o lerdo, não abrem passagem para ninguém, lascam a mão na buzina, afundam o pé... ih... uma baita contradição só!

Eu tenho muita vontade às vezes de lembrar a todos que compartilham estas mensagens no facebook, de que o horário de pico e sua impaciência dentro de sua imperial máquina, ainda é um horário dentro das 24h do dia humano. Ou cria paciência e generosidade, ou não entope de hipocrisia a tela dos computadores.

O trânsito testa a irracionalidade humana.

UFA! MUNDO DA VELOCIDADE-COTIDIANA-CÃO!

O melhor preventivo ainda é a generosidade. Ninguém vai perder tempo de vida por ter sido generoso no trânsito.

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