quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Diploma de jornalismo, pra que?


Texto de Andrei Fialho, jornalista.
O que meus amigos jornalistas e não-jornalistas pensam a respeito? Para refletir.

Diploma de jornalismo, pra que?

Bons tempos foram aqueles da faculdade. Muitas amizades, aulas descontraídas, um pouco de discussão e algumas práticas de jornalismo. Até ai, tudo bem. Dá realidade latino-americana em comunicação à teoria da pirâmide invertida, o curso de jornalismo não passa de “enchessão de linguiça”.

Como jornalista diplomado, afirmo: o jornalista e os meios de comunicação só são corporativistas para anunciar a morte de um colega. A premissa básica do jornalismo é escrever. O que eu conheço muitos jornalistas preguiçosos que não gostam de escrever, é uma coisa séria. O pior de tudo é a doutrina de redação para textos jornalísticos. Por favor, agora precisa de diploma para escrever um texto enlatado e todo amarrado com regras?
Tem muita gente que faz jornalismo para virar fotógrafo, operador de áudio ou editor de vídeo, para isso a Feplam tem cursos de um ano que resolvem o problema. A ilusão que se vende de se trabalhar em grandes veículos de comunicação não condiz em nada com a realidade. O piso salarial do jornalismo no Rio Grande do Sul é algo humilhante. Só aceita quem ama a profissão.

Por outro lado, o miserável do jornalista fica nas mãos dos seus superiores. A fantasia da bela produção textual acadêmica morre nos interesses do veículo de comunicação. E ai, se foi toda teoria, toda preparação universitária. Pergunto, para escrever o que o chefe manda precisa de diploma? Vejo milhares de jornalistas fazendo exatamente o oposto que aprendi na universidade. Alguma coisa está errada, ou eu que sou trouxa.
Já o segmento de assessoria de comunicação vem crescendo e absorvendo muitos jornalistas. Estes ficam mais amarrados ainda, porque têm que escrever aquilo que o assessorado quer, citar as pessoas em determinada pauta para satisfazer a vontade do chefe, mesmo que estas informações não tenham relevância nenhuma. Além disso, são cobrados porque a mídia não divulgou tal pauta.

Poucos são os jornalistas que possuem autonomia de seu trabalho. Em casos de assessoria, ficam sob o julgamento de leigos. Para planejamentos em comunicação, o jornalista que estudou tem que acatar a vontade e a percepção do conhecimento empírico dos outros. A palavra final nunca é do jornalista. Precisa de diploma para ser um operador de ações de comunicação?

Outro fator relevante são os novos canais de comunicação oferecidos pela internet. Blogs, sites, redes sociais e outros, estão sendo preenchidos e interagidos por diversas pessoas e possuem uma crescente busca por parte do público como fonte de informação. É importante prestar atenção no perfil do consumo e do consumidor da informação. A imprensa tradicional não ocupa mais o mesmo espaço dentro dos consumidores. As pessoas estão buscando as informações que lhes agradam nos novos veículos virtuais que surgem e se consolidam a cada dia. Quem gosta de esportes não vai acessar um site de política, por exemplo. Essa é a democracia da informação.

Este novo cenário põe em cheque a função do jornalista. Acredito que tanto o Sindicato como a Federação dos jornalistas estejam fazendo um bom trabalho. Faltam militantes. São novos cenários, novas realidades. A classe dos jornalistas deve refletir e tomar um posicionamento mais coletivo. Não consigo imaginar o que aconteceria se cancelassem a necessidade dos diplomas dos engenheiros, médicos ou advogados.

A conjuntura atual do jornalismo e de sua classe deve naufragar o diploma. Pelo que vejo, a fábrica dos sonhos da universidade versus a realidade, não dialogam para a formação de um profissional com uma função social definida. Se é para ser a realidade de trabalho que se tem hoje, um curso tecnólogo, de dois anos, basta para criar um operador da informação. Outras funções de bastidores do jornalismo, menos ainda, cursinhos de operadores de câmera, filmadora, e até de maquiagem devem fomentar a economia de pequenas instituições de ensino. Diploma, só para concursos públicos e olhe lá.

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