terça-feira, 20 de agosto de 2013

Que fenômeno é esse?


 

Hoje na aula e depois voltando no ônibus me peguei pensando que fenômeno é esse. O que é isso que me acontece quando estou perto de pessoas que tenho sintonia sem ter conhecido uma vida inteira? Sem ter laços de sangue? Sem ter décadas de história? Sem ter dúvidas? Sem receios? Assim, simplesmente? Que fenômeno é este de sentir a presença de quem não está, apenas recebendo um bolo de cenoura? Que fenômeno é este de sair da sala para dar um abraço em quem esteve de passagem e vibrar poucos segundos uma energia de como se não fizessem dois meses que não nos víamos? Que explicação tem encontrar alguém numa fila, receber um abraço sem palavras e trocar energia sem diálogo? Que nome se dá para a "beleza de ser um eterno aprendiz"? O reconhecimento humilde do inacabamento? Como se explica voltar para uma sala de aula e se sentir em pleno estado de “ufa!”? Não sei que fenômeno é este de se sentir tão acolhida. Tão compreendida. Ao mesmo tempo, tão cheia de dúvidas, tão no direito de ser o que se pretende ser. Sem rótulo, sem título, sem vaidade. Como podemos chamar a sensação de fazer parte mais do que de uma turma de gente querendo estudar, querendo entender mais das coisas, mas acima de tudo uma turma de quem se entende só no olhar. De quem compreende nossa respiração. De respeito. De quem não separa forma de conteúdo. De quem não separa afeto de conhecimento. De quem não fragmenta a vida da teoria, muito menos a pele do pensamento. De quem não abre mão do desejo, do ser, do sentir. Não arranca da ciência o amor. Muito menos da prática o carinho. Que fenômeno é esse do tal de abraço despretensioso que nenhum de nós abre mão? Por que passamos a vida inteira separando sentimento de trabalho? Afeto de estudo? Carinho de conhecimento? Romantismo acadêmico em plena aula? Não. Vida real sendo trocada, relatada, debatida, discutida, repensada, compartilhada. Humano integral. Não deixa a alma na porta do trabalho, da escola, da universidade, e entra. Muito pelo contrário. Entra de alma e tudo. Com sentimento. Com vigor. Nos lugares mais sombrios. Mais estressantes. Mais cruéis. Mais formais. Mais duros e até mais violentos. Vida... desafiadora por essência, mas, na sua totalidade, podendo ser o que tiver que ser. Ufa! Voltei para a minha necessária terça-feira neste mundo de realidade em eterna transformação coletiva. Mais do que já diziam os filósofos existencialistas sobre a importância do "outro", mais do que já diziam os poetas de que era "impossível ser feliz sozinho", mais do que isso... é o reconhecimento contínuo disso.  

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sábado, 17 de agosto de 2013

Rap Bãrtdei, my brother!

Me disse que quando eu cheguei no mundo ele já estava. Que já pode viver uns anos sem mim, e que eu nunca na vida havia vivido sem ele (tortura bem fundamentada)! Vai ser sempre assim, o dono do pedaço, do campinho, o primeiro filho, o primeiro neto, não tem o que fazer, cheguei depois. Hoje completa 35 anos de vida e quase 31 de convivência com "aquela que veio ao mundo para dar graça" nas suas manhãs vendo Xou da Xuxa, He-man, She-ra, Porta dos Desesperados do Sérgio Malandro... Com quem ele fazia testes de lutas marciais, cabanas, corrida de tampinha, partidas de vídeo-game, ih. Depois me obrigou a gostar de Cavaleiros do Zodíaco. Eu tive que gostar daquilo, tchê, que desenho bem chato!!!!!! Era um tempo em que o poder se concentrava na mão de quem possuía o controle remoto. Não tinha essa de ter TV só para si no quarto. Aliás, não tinha controle remoto. Mas com ele eu também acordava de madrugada e dormia na sala para ver o Airton Senna domingo de manhã bem cedinho. Além disso ele me instigou o instinto de sobrevivência. Comia igual o Taz tudo que tinha de porcarias e besteiras dele e vinha comer as minhas depois. Páscoa, era fatal. Tive que aprender a esconder, guardar, poupar. Também dava briga para ler os gibis da Mônica. A briga era de quem lia primeiro. Coisas muito nobres... que atormentavam a paz do lar! ehhehehehe. Eu tenho um puta orgulho de ter passado a infância copiando tudo que ele gostava, porque do contrário estaria fadada a ser gremista como meu pai, ou quem sabe seria filiada no DEM, porque meu pai votou no Maluf... e ainda me levou para votar junto com ele (cheguei em casa e fui correndo dedar para a mãe), ou ao invés de gostar de música legal talvez escutasse umas "pereba braba". Ele ligava o som no quarto dele tão alto, tão alto, tão alto, que a vizinhança inteira aprendeu a gostar de música "alternativa". Nossas primeiras mesadas. Gastei influenciada por ele também. Com cd, logo que pudemos acessar o cd. Era um absurdo de caro. Porque a gente passou a infância inteira ouvindo fitinha kassete e vinil. Meu primeiro cd resolvi tentar ter um ataque de personalidade e escolher alguém da minha cabeça, sem a influência dele. Escolhi o cd do PATO BANTON! AHAHHAHAHAAHH Ele ri da minha cara até hoje. Mas eu tinha um motivo, é porque tocava no mingau... tá? Ainda do mundo das influências... foi ele quem me obrigou a ler um livro. Na faculdade, quando ele despertou para a política, se apaixonou de uma forma e queria que o mundo soubesse do que ele estava descobrindo. Lá fui eu. Me fez ler o Manifesto Comunista. Me fez ler também a Pedagogia da Autonomia! Olha isso, eu era quase uma adolescente, lendo Paulo Freire, jamais imaginando que uma década depois seria o foco da minha vida, seria a base do meu estudo, seria minha vida, minha prática, o doutorado, a escola, enfim. Alguém me disse esses dias que o irmão ou a irmã, são nossos primeiros amigos de verdade. Porque é com eles que a gente divide coisas que não são aproveitadas com os adultos. Passei a vida toda explicando para todo mundo que perguntava, que éramos irmãos só por parte de mãe. Olhavam para um, olhavam para outro... e as peças não se encaixavam. Eu amarela e ele pretão. E eu sempre adorei ser tão diferente, mas ao mesmo tempo tão igual. E não é que anos depois a gente fez um xerox da vida? Estão aí, nossas fotocópias! Feliz Aniversário, Amon da Costa TE AMO!!!!

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