Mundão véio sem portera
Mas eu não sou daqui... eu não tenho amor... eu sou da
Bahia... de São Salvador...
Marinheiro só.............
Às vezes eu acho o mundo uma droga. Uma droga ilícita
alucinógena letal. Não sei se existe e nem qual é. Quando vejo ódio, raiva,
rancor, competição e mesquinharia, eu desacredito. Quando vejo que a ética é a do poder dos objetos sobre as pessoas. Pessoas que com objetos dominam outras pessoas.
Às vezes eu acho o mundo uma coisa maravilhosa cheia de
outras coisas dentro.
E dentro de outra coisa, de outra e de outra, um mundo
infinito de coisas. Tipo o Horton e o Mundo dos Quem. Um desenhozinho querido
onde um elefante descobre que numa pluma existe uma formação social completa e
escuta uma voz de lá. Tenta fazer toda floresta acreditar que escutou uma voz
saindo da pluma. E na pluma viviam os Quem. O mundinho dos Quem, que cabia numa
pluminha era muito divertido mas também cheio de contradições. Tipo o mundo do
Horton.
Esse desenho fofo me faz pensar muita coisa. Que tem muita
coisa para ser compartilhada nesse mundo. Tem muitos mundos num mundo só. Tem
muita vida numa vida só. Tem pouco tempo numa vida só. Por outro lado, mesmo
sabendo que temos pouco tempo numa vida só, insistimos em gastar esse tempo com
mil parafernálias que nos oferecem para que deixemos nossa vida e nossos objetivos
serem as coisas mais fúteis do mundo.
Temos pouco tempo. Temos nosso próprio tempo. Não temos medo
do escuro... mas deixe as luzes acesas... (e se deixar vou seguir cantando até
amanhã...)
Assisti meio que forçada, porque queria fazer outra coisa,
mas meu empolgadíssimo irmão tem por hábito mostrar goela abaixo as coisas que
ele acha interessante, até que vejamos. Isso não é uma crítica, pelo contrário,
não fosse assim eu não teria visto. Um documentário dizendo tudo que acontecia
no mundo num único dia. Dia 10.10.2010. As coisas mais simples. Quantas pessoas
amaram, casaram, choraram, foram à escola, foram trabalhar, quanta mercadoria
circulou no mundo, quanta gente nasceu, quantas morreram, enfim, tudo que
aconteceu em apenas um dia da Terra.
As imagens que iam de norte a sul do planeta, me comoveram.
Quanta cultura, quanta crença, quantas emoções, quantos sentimentos, quanto
tudo. E nisso vi que o mundo é muito grande para a gente ter a audácia de
querer desbravá-lo. Por outro lado, assistindo o Rubem Alves que faleceu ontem,
o ouvi falando que o que nos dá sentido e significado é o que está à nossa
volta. O que temos de mais perto. Como a cebola. Não temos como ser o centro da
cebola e querer atingir a camada mais externa sem passar pelas camadas do meio.
Por isso manuseamos, lidamos, convivemos, pensamos e repensamos sobre o que
está mais próximo. Para depois tentar ir além. Lembrei dos meus desejos malucos
de ir mundo afora sem ter hora para voltar. Sem ter passagem de volta. Por
outro lado parei para pensar num mundo todo desconhecido que existe e ainda
está perto de mim.
Lembrei do Horton e pensei nas tantas coisas que estão perto
e tantos mundos, e, no entanto, não enxergamos nem ouvimos.
Esse mundo ainda tem muita coisa para eu conhecer. E não são
pontos turísticos. São pontos humanos. Feito de gente e de natureza. Cultura de gente. Modos
de pensar de gente. Tenho medo de querer saber tanto do mundo e acabar aqui, me
distraindo com porcarias inúteis que me tomam tempo de felicidade. E desperdiçam
energia. Não fosse a preguiça eu seria muito mais curiosa do que sou.
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